segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Anjos não abandonam

Solidão! Era esta a sensação que ele mais havia experimentado em toda a vida. Quem? Menino Solitário. Não sozinho, pois pessoas nunca haviam lhe faltado. Mas, companhia, presença real, isto ele não conhecia.

Menino Solitário não era religioso, mas acreditava na existência de Deus. Desde quando se chamava Criança Solitária sabia que Deus o amava e que estava com ele em todos os momentos. No entanto, o sentimento de solidão permanecia, já que ele pensava precisar de companhia humana. Nem imaginava o que lhe estava reservado.

Apesar de ter sempre dito acreditar que Deus conhecia melhor as suas necessidades do que ele próprio, Menino Solitário, em um dos seus freqüentes momentos de desespero, pediu a Deus que lhe desse uma companhia humana, um amigo. Neste instante, ele chorou!

Desde então, decidiu não mais ser Menino Solitário. Mudou de nome! Passou a se chamar Menino. Agora, Menino procurava Amigo! Lutou, sofreu, brigou, ganhou, perdeu, sorriu, chorou (e como chorou!), e venceu! Enfim, a busca havia terminado. Era hora de viver a nova vida, da não-solidão. Ele havia achado Amigo!

Mas, Deus (Aquele que conhecia melhor as suas necessidades!), depois de algum tempo, lhe retirou Amigo, e Menino não entendeu. Porém, o mesmo Deus, em Sua infinita sabedoria, enviou Anjo Solitário para consolar Menino, que já pensava ter que, novamente, mudar de nome. Anjo Solitário cumpriu bem o seu papel, e o consolou. Cuidou de Menino até que este, já muito melhor, decidiu brigar com Deus para ter Amigo de volta. Chorou, lutou, brigou, xingou, mas, desta vez, perdeu! E, em meio à luta, muitos foram os feridos, dentre eles Anjo Solitário. Menino não sabia (ou não pensara!) que Anjo Solitário tinha sentimentos. Para ele, estes eram atributos exclusivamente humanos. Nisto, Menino se enganou. Anjo Solitário era muito próximo dos humanos, assemelhando-se bem mais a eles do que aos outros anjos.

Depois de muitas feridas ocasionadas, Menino começou a entender o que Deus lhe havia reservado. Ele não havia pensado em dar a Menino algum ser humano, mas queria lhe dar Anjo Solitário, que, por ser visto por todos como um ser perfeito, era tão solitário quanto Menino, quando ainda se chamava Menino Solitário. As pessoas e os outros anjos, até aquele momento, tinham visto Anjo Solitário como um ser sobre-humano, perfeito. E, Menino havia cometido o mesmo erro. Mas, ao compreender a gravidade do que estava fazendo, Menino passou a tratar Anjo Solitário como tratava os seres humanos, entendendo suas carências e necessidades.

Menino teve sorte, muita sorte! Porque Anjo Solitário, apesar de ser muito parecido com os humanos, preservava uma característica fundamental dos anjos: eles não abandonam, são extremamente pacientes. Então, mesmo ferido, Anjo Solitário esperou, pois sabia que a qualquer momento Menino poderia precisar de sua ajuda. E, como Menino precisou! E, Anjo Solitário esteve presente em todo o tempo, até que Menino percebeu que, assim como ele, Anjo Solitário também precisava mudar de nome. Naquele dia, eles passaram a se chamar Menino Amigo-Irmão e Anjo Amigo-Irmão. E, prosseguiram juntos. Sem nunca acreditar na ilusão de que poderiam ser felizes para sempre, mas, tendo a certeza de que seriam amigos por toda a vida!

Hugo Rocha

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