quinta-feira, 10 de maio de 2007

O Valor do Invisível

Indiscutivelmente, a ética é fundamental para a existência de qualquer relacionamento humano sadio. Nietzche acreditava que toda relação humana é pautada pela busca de poder. O grande filósofo alemão dizia que em qualquer tipo de envolvimento entre duas pessoas, ambas teriam o desejo de domínio sobre a outra. Dentro desta visão é impossível acreditar na existência daquilo que, freqüentemente, é chamado de amizade. É complicado encontrar uma posição consensual para definir o termo ‘amizade’, mas, não mais complicado que vivê-lo. Da mesma forma, a definição de posturas e ações éticas esbarra na questão da percepção individual. Não procuro, aqui, traçar uma discussão teórica, mas, definir o que, para mim, é uma amizade. Logo, falo tão somente de minhas percepções, sem o objetivo de torná-las consensuais.

Mas, o que é amizade? É algo que exige, antes de tudo, conhecer. Porém, “a gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!” Este trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, define bem a questão da amizade na contemporaneidade. Na medida em que aumenta a percepção comercial da sociedade até mesmo nas relações sociais, diminui o número de relacionamentos que podem ser chamados de amizade. Amizade é algo impossível de se comprar, há que se cativar.

“Que quer dizer ‘cativar’?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa ‘criar laços’.
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo aos teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”
Cativar não é fácil, exige investimento, paciência, compreensão, dedicação.

“Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.” O que é preciso para cativar alguém? “É preciso ser paciente, respondeu a raposa.” A sabedoria desta raposa confunde o maior dos homens na atualidade. Hoje, as pessoas estão tão apressadas que não possuem paciência suficiente para investir no desenvolvimento de amizades. O sucesso é comemorado tanto maior o número de contatos profissionais. Os contatos pessoais, ou amizades, perderam o valor, já que seu objetivo primordial não é o lucro financeiro, o que demonstra a lógica de Nietzsche sobre a busca de poder nas relações inter-pessoais.

Amizade não é criar lucros, mas, sim, laços. Laços de alma, de confiança, de aceitação, de compreensão. Não é fácil, claro. Mas, quanto maior o esforço maior a recompensa. Aceitar, compreender e confiar trazem o retorno de ser aceito, ser compreendido, e obter a confiança dos outros, também. Amizade é uma relação de troca constante, de alternância, pois, a cada momento, é hora de um dos lados ceder. E é aí que entra a ética em que acredito: a ética do amor. A ética já defendida por Cristo. “Amais uns aos outros”, incentivava Ele.

Como não há consenso quanto a decisões e ações, uma vez que as posições pessoais irão sempre marcá-las, tornando-as pessoais e não gerais, creio que o único ponto de consenso possível de existir entre os indivíduos é o amor. Mas, o verdadeiro e único amor “é paciente, é bondoso, não inveja(...), não se orgulha, não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Coríntios 13.4-7 – NVI)

Depois de entender o que é amar, eu cheguei a uma conclusão: é preciso decidir aprender a amar, para, depois, poder cativar, criar laços, amizades. Não existe o caminho inverso. Ou se decide aprender a amar, ou nunca se terá amigos. Não há outra opção, a não ser renunciar às amizades. Mas, os amigos que aprenderam a amar antes já sabem esperar, suportar, então, estes dão aos que estão aprendendo a oportunidade de viver amizades verdadeiras sem terem chegado, ainda, ao ponto de saber amar como convém.

Eu, felizmente, posso dizer que tenho amigos!
O amigo ético, cujo interesse pela ética cresce junto com sua paciência e compreensão.
O amigo solitário, que, mesmo sem perceber, nunca está só, pois, quanto mais distante pensa estar mais se aproxima, de si mesmo, de mim e do Lugar Seguro em Deus.
O amigo cristão, que situa Deus em todo momento sem ser religioso, e que me faz sorrir sem ser inconveniente.
A amiga ausente, que está, apesar de tudo, sempre presente.
O amigo realista, que concorda que "o mundo está perdido".
A amiga fantástica, que permanece assim até em meio às dificuldades.
A amiga princesa, perfeita até em suas imperfeições.
O amigo irmãozinho, que se preocupa tanto que se esquece de se preocupar consigo mesmo.
A amiga que gosta de mim porque decidiu gostar, já que "amar é obrigação".
A amiga que precisa entender que seu valor é único e inquestionável.
A amiga inesperada, que torna minha ‘viagem diária’ mais agradável com sua companhia.
O amigo que foi afastado, mas que permanece sempre presente, nas lembranças dos momentos ‘perdidos’ que o tornaram único, eterno, inesquecível. E que nos traz lágrimas que, com o passar do tempo, deixam de ser amargas, tornando-se doces, já que demonstram que ainda há laços. “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”

A sabedoria da raposa, amiga do Pequeno Príncipe, me fez entender que “o essencial é invisível aos olhos” e, uma vez que não precisam ser vistas, as amizades, mesmo impossíveis, serão sempre essenciais e reais. Elas não se acabam, nunca

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” Seja presente ou ausente, próximo ou distante, otimista ou pessimista, feliz ou depressivo, concordando ou discordando, há uma verdade inquestionável: o amigo é sempre amigo, e você é sempre responsável por ele.
Hugo Rocha

9 comentários:

Anônimo disse...

Amor?!
Príncipe Perfeito!?
Texto perfeito! Qdo li esse livro, não imaginei que tinha tantas lições assim!
Obrigada por nos mostrar mais uma delas!
Amigo!? Eu amo você! Demais..
Um amor incomparável.. Bjs!
Texto perfeito!

Luciana Ferraz disse...

Hugo,
lindo texto... lindo amigo! Você mora no meu coração, meu irmão!
Te amo muito.
Bjoos
Luciana Ferraz

helder matias disse...

bom texto...

amigo


=P

huhuhu

Unknown disse...

Hugo,
Você me faz chorar, mas são lágrimas de alegria.
É muito bom saber que temos amigos pro que der e vier, independente das temporalidades e da distância também. Não precisa de dizer, mas acho necessário, como sempre...
Te amo!
Beijo

Anônimo disse...

Hugo... estou feliz por ter uma homenagem destas rs... Amei o texto. Você brilhou!
Te amo e te admiro muito e você já sabe disso né?

beijos

Andy & Nara disse...

Uau...
Felicidade maior não há do que poder ler suas palavras...
Amo sua expressão...
E seu carinho...

Obrigado por estar aqui...
Sempre... =]

Andy & Nara disse...

Ainda preciso fazer uma pergunta...
Mas essa vai por carta... rs

Saudades...

Abração

Anônimo disse...

nooo kra ...
mtoo doido isso ...
axu q oq vc escreveu falta e mto nas pessoas ...
elas se esquecem de cuidar das amizades e deixam elas morrerm ...
mto lindo kra ...

abracao

Anônimo disse...

Oi Hugo, parabéns pelo texto.
Fiquei sabendo recentemente
pela Ale que vc escrevia neste blog. Gostei muito do seu texto e de sua explanação sobre a amizade,
foi simplesmente cativante.
Bjus!!!