domingo, 8 de julho de 2007

Uma graça recebida no Caminho

Curioso como as coisas acontecem em nossa vida. Pessoas chegam, pessoas vão. Muitas passam sem nada deixar, nem boas nem más lembranças. Outras podem ser comparadas a um choque entre duas pessoas, fortuito, sem pretensões, mas que pode deixar marcas, como um arranhão na pele. Em alguns casos, a marca fica em uma das pessoas e a outra nem se dá conta. Em muitos outros, as duas o percebem. Mas, em ocasiões bem específicas, as marcas só são percebidas com o tempo.

“Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos”, disse Vinicius de Moraes. Hoje acordei com o coração um pouco apertado, sentindo um vazio estranho e percebi que certo amigo já me fazia falta, antes mesmo de partir. Temi antes de escrever isto, já que este amigo provavelmente não tem consciência da importância que ele adquiriu em minha vida. É até fácil de se entender: só nos encontramos pessoalmente uma vez. Até a consciência de que ele era tão marcante em minha vida demorou a ser percebida por mim. Só parei para pensar nisto no dia em que uma pessoa comentou: “nossa, você fala tanto dele, realmente deve ser um amigo muito especial”. Realmente, acho que citei poucas pessoas como citei este amigo. Referências de textos, de palavras, de uma atenção especial dada através do MSN, coisas simples que têm o poder de marcar uma vida. Mas, como pode alguém que eu só vi uma vez fazer tanta falta porque está indo para outra cidade, outro estado? Como se pode sentir um vazio tão perceptível se a companhia física desfrutada resumiu-se a poucos minutos de um dia?

Sinceramente, não sei a resposta exata, mas tenho algumas evidências que podem elucidar o porquê desta falta. “A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida”, continua Vinicius falando sobre seus amigos. Toda pessoa é carente de amigos, de pessoas que o motivem a caminhar. Esta motivação, em muitos casos, não precisa de nada mais do que um exemplo de vida. Há pessoas que nos deixam traços, um caminho a seguir, porque vemos os frutos que elas colhem após terem percorrido este caminho. Há pessoas que se tornam referenciais, por terem apostado em algo quando poucos acreditavam e terem se dedicado à edificação daquilo em que acreditavam ser possível. Tudo isto sem nenhuma pretensão pessoal. Vejo este amigo desta forma. Ele decidiu percorrer o Caminho e, em sua caminhada de dedicação e entrega, colheu os frutos de receber a cada dia a Graça de Deus e ver muitas pessoas sendo levadas ao mesmo entendimento, sem força nem violência, mas simplesmente porque viram os frutos daquilo que Deus realizou e realiza através da vida dele.

Eu gosto de admirar os meus amigos. E a simplicidade deste amigo é algo para se admirar. Antes de partir, ele diz:

“E por isso, me questiono porque o Senhor me escolheu para tanta riqueza. Eu olho para mim, e digo: ‘Eu não mereço isso!’. Por que eu? Pois existem tantos com capacidades e qualidades espirituais ou intelectuais superiores, que os tornam verdadeiros mestres. E eu...?! Eu não sou mestre de nada. Na verdade, sou apenas um aprendiz insaciável, buscando viver o Evangelho conforme Jesus, e ter a sabedoria para reconhecer os excelentes momentos de felicidade que se encontram pelo Caminho. É... Tudo é Graça! Obrigado, Senhor! Pois a minha riqueza, vem das pessoas que o Senhor colocou no meu caminho ao longo dessa caminhada, e da chance que tive de conhecer o Evangelho da Graça de Jesus Cristo!”

Talvez ele nunca entenda o motivo de ser ele. Em sua humildade, ele reconhece não ser merecedor da responsabilidade e privilégio que Cristo lhe dá. Deve ser por isto que o tamanho da marca que ele deixa em minha vida é tão extraordinário. Normalmente, os maiores resultados vêm quando não se espera nada em troca daquilo que se oferece. E assim como a recebeu, meu amigo divulga a Graça de “graça” a muitos que estão cansados de ter que oferecer uma contrapartida, como eu. Se em apenas um encontro, este meu amigo foi fundamental para que se iniciassem incríveis mudanças em minha vida, quantos mais não serão ajudados quando o encontrarem em outros lugares, outros endereços, ao longo do Caminho? Então, só me resta louvar e agradecer ao Senhor por levar perdidos como ele ao Caminho. Alguém que depois que encontrou não guardou só para si, mas possibilitou que eu também fosse encontrado pelo Pai, assim como muitos outros.

“Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida”, continua o poeta Vinicius.

Obrigado Chico, por ser na minha vida, uma destas pessoas que contribuíram para que eu reencontrasse o encanto, a alegria, a paz e a comunhão com Cristo. Uma graça que eu recebi no Caminho da Graça de Cristo.

Vá em paz, amigo. Espero que, agora, você saiba quanto amor e admiração lhe devoto! Deus o abençoe, plenamente.

No Amor dAquele que eu conheci melhor depois que te encontrei, por ver um seguidor daquilo que Ele verdadeiramente deixou, me despeço, com um aperto incompreensível, mas real no coração. Feliz em saber que ainda há propagadores da Graça neste mundo tão necessitado.

Até breve, Chico!
Hugo Rocha

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