segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O escafandro e a borboleta

Fim das férias. Fim de um ciclo. Agora é hora de retomar um ritmo novo. Último semestre. Em seis meses, a possibilidade real de um diploma. Mas e o saldo das últimas férias universitárias? Como avaliar este período de cerca de 45 dias?

Tempo faz que não escrevo nada além de versos. Tive férias dedicadas à poesia. E para quem não sabe, dedicar-se à poesia não é apenas escrever poemas. Dedicar-se a ela exige disposição de alma, exige deixar-se levar pela beleza, entregar os olhos à contemplação da vida de uma forma reverente e respeitosa. Não é fácil. Machuca!

Quem lê aquilo que escrevo, ou mesmo quem apenas me ouve, sabe como avalio a vida. Meu parâmetro de julgamento é sempre baseado nas pessoas. No contato com elas. Então não poderia avaliar minhas férias sem levar em conta isso: pessoas.

Alguém que tem minha completa admiração teria dito em certa ocasião que “uma alma vale mais que o mundo inteiro”. Sábias palavras! Amizade é ligação entre almas. Compromisso entre duas delas. Exige, antes de tudo, amor. Nestas férias conheci pessoas. Revi algumas que há tempos não encontrava. Contato tive com inúmeras almas. Mas a sábia citação que fiz acima está certa. Uma alma vale mais que o mundo inteiro! Não tenho dúvidas.

Em um dia de julho uma alma se encontrou com a minha. Ligação profunda e eterna. Apesar de ter tido algum contato no passado, apenas agora minha alma pôde reconhecê-la. E não há dúvida alguma: são almas amigas. Antes que alguém conteste, afirmo: não, aquelas almas que eu já amava não perderam o sentido e o valor! Mas, assim como cada uma delas, a alma-amiga recente passou a ter um sentido único. Não há possibilidade de ofertar o lugar que ela ocupa em mim a outra pessoa. É impossível! E isso faz com que ela seja mais valiosa que o mundo inteiro. A necessidade que tenho dela.

Meu amor existe não por que eu precise dessa alma-amiga. Muito pelo contrário. Preciso porque amo! Acredito no Amor como sentimento unilateral. Parte de alguém que decide amar e oferece gratuitamente o sentimento ao outro, mesmo que, em muitas ocasiões, o objeto do Amor não o mereça. Amor vem de Deus! “Todo que ama é nascido de Deus...” Creio plenamente nisso.

Tanto tempo faz que não escrevo textos longos. Mas a ocasião merece um pouco mais. Não pelo meu sentimento, mas por algo raro que aconteceu. Minha experiência mostra, a cada dia, que o Amor é mesmo unilateral. Muito diferente da paixão, que depende da bilateralidade, do retorno, para não morrer. Amor não morre. Mesmo que tenha que sobreviver apenas de um lado.

O que me deixa mais feliz é que, nessa alma, encontrei a rara expressão bilateral do Amor. Eu não dependeria de retorno algum para identificar-me. Mas quando ele veio, encontrou-me necessitado. E uma amizade mais forte que a vida aconteceu! Só me resta agradecer a esta alma. Agradecê-la por ter vencido o escafandro tecido pelo medo e pelas decepções passadas, para deixar surgir a mais bela borboleta nascida em julho: a nossa amizade!

Hugo Rocha

2 comentários:

fiLipe ArêDes disse...

"Muito diferente da paixão, que depende da bilateralidade, do retorno, para não morrer..." . É por isso que a paixão é tão boa e tão ruim, por depender do outro. Muito bom o texto, senhor Hugo.

Everaldo Vilela disse...

a propósito, o filme é tocante.

feito com um cuidado... de uma sutileza que nenhum estúdio "estadounidense" permitiria.

Daqueles que você assiste respirando devagar ao se deparar com a forma humana de enfrentar um problema. De olhar para si e ver que não somos quase nada sem uma pessoa disposta a nos 'completar'.