sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Fim, silêncio e saudade, muita saudade

Às 16h33, ele caminhava pelas ruas ainda agitadas do centro da cidade. O tempo nublado no fim da tarde o convidava ao silêncio. Ele ainda tinha uma hora e vinte sete minutos para decidir o que fazer. Naquele momento, em busca de silêncio, ele já sabia onde ir. Olhando para os próprios pés enquanto caminhava, a fim de evitar o risco de cruzar com algum olhar conhecido – ou mesmo desconhecido, que pudesse evocar lembranças depositadas num campo já abandonado da alma -, ele apenas seguia.

16h36. Em três minutos, estava lá. A construção antiga, majestosa, bela... Bela como o crepúsculo. Fim de tarde! Entrou. Lá, observava a quantidade de bancos e reparava nas pessoas, sentadas, bem distantes umas das outras. Uma coisa era certa: cada uma que estava ali só almejava um tipo de encontro: com o silêncio!

Lá dentro, na semi-escuridão, todos se igualavam. A luz rara entrava pelas portas e pelas pequenas frestas abertas nas janelas. Pessoas separadas por distâncias pensadas e unidas por dores distintas. Mas dor é dor! Por si só, tem o poder de unir (des)iguais. Devoção, reverência, respeito. Com o transcendente representado na existência do outro – nem sempre próximo, nem sempre amigo, mas sempre tão ferido e amargurado. Ele baixou a cabeça e se esqueceu do tempo. Parecia dormir. Entregue ao poder anestésico e analgésico do silêncio!

17h36. Ele tinha que sair de lá. A alma o convidava a ficar, mas o telefone começou a tocar. Saiu para atendê-lo e não mais voltou. Era a hora de partir. Encontros. Reencontros. Para alguns, sobrava disposição. Para outros, não! Um breve passeio pela ambiência do barulho. Pessoas apressadas, nervosas, estafadas... Ele estava de volta à realidade, muitas vezes tão feia e suja. Estava pronto para recomeçar!

17h45. Encontros! Um encontro belo. Um encontro que precisou ser parido. Um encontro que tinha tudo para ser desencontro. Noite de (re)encontros. Mais e mais encontros. Encontros com a realidade e com a verdade. Encontros com a mentira e com a dor. Mas pelo encontro que sua alma mais ansiava ele ainda aguardava. E, quando, enfim, a hora chegou, seus olhos se iluminaram. Um sorriso impossível de ser descrito. Um sentimento impossível de ser definido.

No fim do dia, restava apenas a lembrança viva de um encontro. Aquele encontro. Ele aprendera a valorizar certas coisas. Com isso, bastaria um encontro como aquele para subjugar todos os (des)encontros de uma vida.

Como era prazerosa a certeza de que aquele encontro não habitava mais o presente, nem mesmo o passado. Estava no território pertencente à eternidade. Era o suficiente para esquecer-se da dor da efemeridade de tantos encontros desencontrados que ele havia enfrentado na vida.

A noite chegou. Com ela, um questionamento vivo nascia! “Pode alguém plantar caquis e, na hora da colheita, encontrar morangos?” Ele tinha certeza que não. Mas também tinha certeza de que há muita gente que pense que sim.

Ele estava em casa, pronto para as dores da vida. Pronto para a má notícia. Mas a má notícia recebida não era a esperada. Era novidade. Novidade e sofrimento. Viver é dor. Sim, muitíssima dor!

Em alguns minutos já seria outro dia! Dia de tristeza. Data amarga. Luto!

No coração, apenas uma certeza. Era hora de mais uma de-cisão! De-cisões, na verdade...

Fim e silêncio. E saudade, muita saudade...

Hugo Rocha

4 comentários:

Leandro Neri disse...

Assim...

EU não sei direito o que comentar, mas...

Putz! Que texto bom!!
Gostei muito mesmo!!

Um abraço!!

andre' disse...

^ Realmente um belo texto!

Abraço mano!

Quel disse...

Guinho esse é sem dúvida um dos mais belos textos que você já escreveu. É de emocionar...
Beijos.

Natália disse...

Lindo, mesmo!!

Repito o que disse para um amigo recentemente...:

Engraçado é o Amor.... Muitas coisas no mundo podem ser destruídas ou levadas da gente, mas, o Amor, esse não... Ninguém tem o poder de destruir, roubar ou simplesmente diminuir.. Nem "a morte, angústia de quem vive"....

Bjs.