sábado, 10 de março de 2012

Com muito orgulho, Pirapora

Foto: Kleber Bassa

Pirapora passou a existir, para mim, há pouco mais de três anos. Apesar de já ter quase 100 anos de história, e eu já ter vivido um quarto de século, a cidade do Norte de Minas começou a tomar forma em minha vida por meio do Pedro, que morava em Buritizeiro, que fica pertinho de Pirapora (e, aqui, vale o parêntese pra dizer: não é o “pertim” de mineiro, não, é bem perto mesmo: basta atravessar a ponte Marechal Hermes). Conheci o Pedro no segundo semestre de 2008. Ele tinha vindo do interior para estudar na UFMG. Foi ele a primeira pessoa relevante que me falou de Pirapora e, por isso, foi dele em diante que ouvir a palavra “Pirapora” passou a me remeter à cidade mineira.

Com o Pedro, aprendi muitas coisas. Uma delas, que parece simples, foi no vocabulário. Nascido na capital, e acostumado a citar os meus pais sempre com o pronome possessivo, sempre me chamou atenção a forma com que ele falava coisas do tipo: vou pra Pirapora passar o feriado com mãe, mãe me ligou. Nunca com o pronome “minha” na frente. A princípio, parecia impessoalidade, mas logo passei a ver de outra forma: em BH, somos mais egoístas, o que se reflete até na fala, em que colocamos as pessoas como propriedade nossa. Vocabulário impregnado da cultura do “ter”. Mais que “ser” filhos, temos sido ensinados a “ter” pais. Ter, que vem antes do ser...

A verdade é que longe do progresso, longe das grandes construções, há pessoas bem mais saudáveis e mais felizes que nos grandes centros urbanos. A própria simplicidade da vida favorece o bem-estar. É mais fácil reconhecer e perceber a graça da vida nas pequenas coisas. Um exemplo são os encontros: em Pirapora, como é comum nas cidades pequenas, as pessoas se encontram. Falo isso em contraponto ao que acontece aqui, em BH. Trabalho na UFMG, a mesma universidade em que o Pedro estuda e, mesmo assim, não consigo encontrá-lo. Só por acidente. O tempo não permite: o trânsito, a correria da vida urbana, são fatores que nos distanciam.

Em Pirapora, pude experimentar o contrário: a proximidade. Há pouco menos de um mês fui, pela primeira vez de muitas (espero!), até lá: dias inesquecíveis. O Pedro não estava por lá, mas passei os dias do carnaval com duas pessoas que, em 2011, passaram a pintar em minha mente e coração novas imagens de Pirapora: Kleber e Carol. Imagens que reforçaram e intensificaram o meu desejo de conhecer a cidade.

Foto: Kleber Bassa
Desejo realizado, mas não satisfeito. Voltei de Pirapora com aquela vontade de experimentar um pouco mais. E com a certeza de que voltaria, a mesma certeza que sinto quando vou ao Rio de Janeiro (e, para quem não sabe, ajuda contar que sou um mineiro-carioca, apaixonado pela capital fluminense). Às margens do Rio São Francisco, consegui me sentir em casa. Ao atravessar a ponte Marechal Hermes, para “conhecer” (entre aspas porque espero conhecer mesmo na companhia do Pedro) Buritizeiro, na volta, sentia-me como quem volta ao lar. É engraçado: ao mesmo tempo em que sou urbano, e gosto dos grandes centros, em Pirapora descobri a beleza do interior.

Foto: Kleber Bassa
Muitas das coisas que me tocaram, fizeram mais sentido quando entrei no ônibus, para voltar à rotina em BH. A travessia da ponte. Os encontros na praça. A tarde na sorveteria. A longa caminhada, sem alcançar o objetivo de passear no vapor Benjamim Guimarães – o único em atividade no país. As fachadas das lojas. Sentar à noite em frente à igreja. Vencer o calor nas águas do – conforme chamam os índios – Opará. Olhar as estrelas às margens do Velho Chico, como também chamamos um dos rios mais importantes do Brasil e da América Latina. As risadas, as lágrimas e a presença – ah, a saudosa presença! – dos meus piraporenses preferidos.

Em Pirapora, me senti um pouco mais perto de Deus. E isso apenas porque, em Pirapora, pude me sentir mais perto de mim mesmo. Em Pirapora, reencontrei raízes, histórias e sonhos. Em Pirapora, descobrir que “é de sonho e de pó o destino de um só...” Assim como na poesia que cantavam João Mineiro e Marciano, “como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar...” nessas linhas. Sem vergonha alguma (adaptar e) cantar: “sou caipira, Pirapora, nossa...” E com o perdão da licença aos que lá tiveram o privilégio de nascer, parafrasear: sou caipira, Pirapora, minha! 

Minha Pirapora!

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