quinta-feira, 29 de março de 2012

Vários, alguma inquietação

Foto: Kleber Bassa
Há dias em que eu acordo com uma inquietante certeza: sou a pior pessoa do mundo. Sem nenhuma demagogia, enxergo-me, tal qual Paulo, como o “maior pecador dentre todos”. Impossível existir em algum lugar desta Terra alguém que erre mais que eu. Alguém que seja mais incoerente, mais egoísta, mais desumano.


Nessas horas, fica ainda mais incompreensível o Amor que está sobre mim. A Graça que, em todos os dias, me alcança. Entendo o que quis dizer o autor de Eclesiastes sobre o sol nascer sobre bons e maus. Apesar de toda a minha maldade, o sol ainda nasce sobre mim. Nos meus piores dias, talvez eu o perceba com mais intensidade. Força que evidencia o Escândalo da Graça. Luz que vem acompanhada do Abraço.


Envolto nos Braços, evito pensar.  Como bem diz Caeiro, uma das faces de Pessoa, “pensar é estar doente dos olhos”. E digo mais: pensar, nesses momentos, é estar doente dos sentidos. Procuro apenas sentir o Amor que me constrange e me leva de uma mera condição de existência – sobrevivência – à uma sensação intensa de realmente viver.


Assim como Pessoa, sou vários. Pena que meus vários não possuam a maestria de Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis. Pena que meus outros não sejam estetas, nem mesmo poetas. 


Melhor não pensar nisso! Pelo menos, não agora. Até para pensar, é preciso esperar o momento certo. Uma das minhas poucas certezas é que “há tempo para tudo debaixo do sol”.  Hoje é meu tempo de receber os raios. E permitir que eles me tragam Luz e Vida – muita Vida!

Um comentário:

Alysson Tato disse...

Que lindo.