sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Apenas e principalmente hoje

Ao longo dos meus 22 anos, fiz alguns planos. Mesmo sem ter a alma afeita ao fazer planos para o amanhã, vi-me, em diversos momentos, pensando naquilo que faria em meu futuro. Reconheço que a cultura do planejamento antecipado me parece absurdamente estranha. Não por que seja adepto de uma vida tocada sem qualquer preocupação com o que ainda virá. Seria exagerado defender tamanha irresponsabilidade. Ignoro totalmente o futuro. Mas sou atormentado por uma só questão; para mim, um tanto óbvia: se não tenho certezas se estarei vivo amanhã, por que fazer planos apenas e principalmente para o amanhã?

Notem bem, apenas e principalmente! Duas palavras que mostram que não me declaro, então, contrário ao ato corriqueiro e comum de pensar no amanhã! Não há oposição alguma em meu ser ao planejamento. Em um mundo extremamente instável, planejar torna-se quase que obrigação. Mas a mesma incerteza que nos impulsiona na busca pela segurança no amanhã, deve ser adotada como parâmetro para a ação do hoje. Ou seja, a instabilidade do mundo nos mostra o que nem sempre enxergamos: o fato de não ter certeza alguma sobre o amanhã é suficiente para nos motivar a experimentar o hoje em plenitude.

Sempre digo que não sou adepto de extremos. O caminho – não digo perfeito, mas ideal – é o equilíbrio. Nesse caso, especificamente, significa viver o hoje, tendo no pensamento um leve toque do amanhã! E essa foi uma decisão que tomei; por isso, decidi abandonar alguns dos meus planos para o futuro. E mesmo tendo desistido deles, não pretendo deixar ninguém curioso. Não vou esperar o amanhã para revelá-los; farei isso agora:

Planejava, daqui a alguns anos, dizer ao mundo que não há homem mais importante em minha vida que o meu pai. Revelar que o processo de aprender a amá-lo e vencer as nossas inúmeras diferenças transformou-se em um dos principais alvos da minha vida. Deixo a corrida em busca de poder e glória humanas aos outros, relego-a ao segundo plano, enquanto corro em busca do maior prêmio alcançável nessa terra: a plenitude do Amor. Aprendi que tudo passa. E o único elo capaz de manter perfeitamente unidas duas almas, a despeito da morte, é o Amor.

Também planejava, para um dia um tanto incerto de meu futuro, explicar por que resolvi investir especialmente na comunhão. Palavra que considero extremamente bela. Na raiz quer dizer comum união. Ou seja, ponto de igualdade capaz de unir duas pessoas, mesmo que intensamente distintas. E essa capacidade está no relacionamento. Pessoas, por mais diferentes que sejam, precisam e querem – desesperadamente – relacionar-se; buscam, a todo instante, o encontro com o próximo. Eu planejava escrever em um livro esses ensinamentos, a fim de que todos soubessem o bem precioso que meu pai me fez enxergar, através do Amor que sempre nutriu pela sua família, a despeito de qualquer diferença que os pudesse afastar. Diria a todos que ele me mostrou que não há diferença capaz de burlar a eficiência do Amor entre dois seres.

Outro projeto que abandonei é explicar aos homens o significado, infelizmente perdido, da palavra vencedor. Muito antes do dinheiro assumir – de forma lamentável – a função de protagonista em nossa sociedade, os vencedores eram aqueles que apostavam em seus valores e princípios até a morte. Caso a luta se tornasse necessária, o vencedor aceitava o risco de abreviar sua existência; porém garantindo a integridade. A todos que encontrasse, diria que o maior vencedor que conheço é o homem que me criou. Nunca encontrei quem mais tenha aberto mão do poder por Amor. Em minha curta vida, percebi que raros são os que ajudam sem questionar. Doam sem se arrepender. E perdoam sem considerar merecimento. Meu pai sempre soube que perdão é Graça. Não é dado àqueles que se dizem bons. Mas principalmente aos que se sabem incapazes de o ser.

Desisti do plano de esmiuçar o que é sucesso. Os parâmetros estão invertidos. Sucesso foi confundido com fama. O tanto que uma pessoa é conhecida, ao contrário do que muitos pensam, não é proporcional ao sucesso que ela tem na vida. A despeito do que pensam os ingênuos, sucesso não se faz com dinheiro, fama ou poder. Antes, é colheita que se faz diariamente, demonstrada através do respeito recebido, do Amor vivenciado, e da comunhão experimentada com o próximo. Aos que não o conhecem, diria que meu pai é um bom exemplo. Muitas foram as vezes que ouvi elogios ao seu caráter. Entre outras coisas, referências à sua vida de filho, marido, pai, tio e irmão. Um homem que tem a coragem de amar e colocar a família sempre em lugar de honra. Com reverência humilde, amorosa e sincera.

Por fim, também abandonei a vontade que tinha de explicar ao mundo a necessidade de uma vida de coragem. Disposição de espírito essa que, ao contrário do senso-comum, não implica em viver a vida sem a presença do medo. Muito pelo contrário, ter coragem é aceitar a realidade do medo, sem se render e se curvar a ele. Um ser corajoso é aquele que, como meu pai, vive a luta de cada dia, superando o medo. Ele sabe que cada dia guarda seu próprio mal e, mesmo assim, não desiste e não se queixa de viver.

Antes que me perguntem por que joguei esses planos ao vento; ou que me questionem por que dispensei essa lista de projetos para o futuro, prefiro esclarecer minha motivação. Que é muito simples. A verdade é que seria incoerente continuar planejando tudo isso para o amanhã. Pois nem de relance sei se estarei vivo. Sequer posso imaginar se me ouvirão.

Decidi então abreviar. E fazer dos meus planos para o futuro a realidade do meu presente. E no meu hoje, meu herói está vivo! E se faz digno de saber tudo aquilo que aprendi nesses anos em que com ele estou. Talvez eu até retome esses planos no meu futuro. Mas, isso, só o amanhã dirá. Por enquanto, paro aqui – no presente. Como disse, cansei de planejar. Meu pai está vivo e isso faz do hoje infinitamente melhor que qualquer amanhã...

Hugo Rocha

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