sexta-feira, 12 de junho de 2009

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é serio, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

andre' disse...

Poema interessante...
Gosto do Carlos Drummond...
Ele tem um jeito interessante de descrever a vida...
Esse eu não conhecia...
Vlw por divulgá-lo mano...

Abraço!

. rafael rocha. disse...

é o meu poema preferido - do meu poeta brasileiro preferido

=]

fiLipe ArêDes disse...

Aprendi a gostar de Drummond. Tudo influencia da minha tia, que alias, tem um cd cheio de poesias declamadas por ele.